HORIZONTE
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo
Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da verdade.
De Mensagem (1934)
***Fernando Pessoa***
Nascido em 1888 em Lisboa, Pessoa transferiu-se aos 7 anos para Durban, na África do Sul. Lá, freqüenta escolas de língua inglesa. Em 1905, volta definitivamente para Lisboa, a fim de matricular-se no curso superior de letras. Ensaísta, editor de revistas e panfletos literários, escreve poemas em inglês e em português. O conhecimento da língua inglesa valeu a Pessoa a possibilidade de tirar o sustento com o emprego de "correspondente estrangeiro" — ou seja, o sujeito que escreve cartas comerciais num escritório de importação e exportação.
em 30 de novembro de 1935, falecia em Lisboa Fernando António Nogueira Pessoa, poeta único em sua multiplicidade. Na opinião de muitos, Pessoa integra a mais alta trindade de poetas da língua portuguesa, ao lado do quinhentista Luís Vaz de Camões e de nosso contemporâneo Carlos Drummond de Andrade.
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