segunda-feira, 19 de setembro de 2016

FALSO ALARME

   Sinopse

O barco desliza pelas águas calmas do hayou. Águas negras e paradas tão escuras como o céu nocturno. Tão escuras como o coração de um assassino. Na água erguem-se os ciprestes, fila após fila, sentinelas altas tão imóveis e silenciosas como a morte. Atrás deles, nas margens, os salgueiros-chorões, ramos curvados como se pelo desgosto, e os carvalhos com os seus troncos curvos e ramos retorcidos, parecendo coisas encantadas e imobilizadas para a eternidade num momento de agonia. E dos seus membros contorcidos pendem as barbas-de-velho, cinzentas, empoeiradas e rasgadas, como plumas de avestruz deixadas a apodrecer no sótão de uma mansão abandonada e em ruínas.

Tudo é cinzento e negro na noite do pântano. A ausência de luz, o reflexo da luz. Uma fatia da Lua surge entalada entre nuvens altas, depois desaparece. A calma desce quando o barco passa. Olhos espreitam dos juncos, das árvores, e um pouco acima da superfície da água. A noite é para o caçador e para as presas. Mas todas as criaturas esperam enquanto o bâteau passa por elas, o seu motor a ronronar grave e gutural, como o rugido de uma pantera. A expectativa adensa como o nevoeiro que paira entre os troncos de nissa e liquidámbar

Um predador atacou esta noite, astuto e cruel, sem outrO motivo que não o de ter nas mãos a vida de outrem e saborear o poder de lhe pôr fim. As criaturas do pântano vêem passar o predador enquanto o cheiro do sangue fresco se mistura com o aroma pútrido e metálico do hayou e o perfume adocicado da madressilva, do jasmim e da verbena.

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